segunda-feira, 9 de agosto de 2010

As Memórias e Os Caminhos.


Em Abril de 2010 eu apresentei um espetáculo como diretor e autor. Foi um trabalho a parte do grupo de teatro do qual faço parte. Um trabalho independente. Para isso contei com a ajuda de diversas pessoas trabalhando nas áreas de cenografia, iluminação, acessoria, composição da trilha. Foi um bom projeto com um excelente resultado.


Na criação do programa houve um texto que por motivos de espaço físico no papel acabou não sendo publicado. Trata-se de uma anotação que eu fazia enquanto trabalhava com o ator Venício Coelho durante o processo de montagem.

O nome do espetáculo é Memórias Apagadas e faz partede um projeto que se chama CARTAS


Abaixo segue o texto tal qual tirei do caderno de registro.

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Reflexões do processo de criação do espetáculo Memórias Apagadas.

19 de agosto de 2009

Depois de um tempo maturando e escrevendo sobre as possibilidades do espetáculo, sobre os caminhos que devo seguir, mas principalmente sobre os caminhos que quero tomar, surgiu uma estrada sobre o qual eu ainda não havia pisado. O de contar o que seria não uma história, mas um sentimento. Venho há muito tempo com sentimentos diversos sobre a recente história da humanidade. Não é um sentimento que traduz com pena ou acusações de culpa, colocando o ser humano como algoz na destruição da terra, e consequentemente na destruição de si próprio. O homem traz em si necessidades. Óbvio que a consciência de um uso adequado é relevante para a melhor qualidade de vida de todos. Mas dentro dessa história de preservação e autodestruição há o item das relações entre homem e o próprio homem. São essas relações que quero levar adiante dentro do processo do trabalho.
Dentro desse caminho, o espetáculo surgia como uma carta, escrita e visual, que não há destino específico. É de quem a pegar. E ainda que alguém a pegue, ela continuará seu caminho para que outras pessoas leiam (mesmo as que não sabem ler palavras).
A Linha da carta vai girar em torno da condição humana atual. De chamar a atenção para o comportamento entres os homens, de quando a liberdade é comprometida pelas ações e atos. Não necessariamente seguirá uma ordem lógica.
Mas qual seria o objetivo desse trabalho?
Entregar a carta? Fazer com que a carta seja lida? Fazer com que as pessoas entendam a carta?
Haverá uma história na carta? Uma linha que seguirá uma lógica? Que história seria essa?
Que tipo de espetáculo será esse? Será um espetáculo?
Palavras são só palavras. Mas essas que trago comigo tem caminhos que não mais me pertencem.
As palavras que trago não são carregadas com qualquer sentimento que posso desviar do destino a qual a conduzem. Não são minhas palavras. Não sou eu o destino.
Uma carta tem como alma a mensagem. A entrega. Eu sou isso. Sou a entrega. Eu sou a carta.
O que eu, que sou carta, venho dizer? O que eu, que sou carta, venho entregar?

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