domingo, 10 de outubro de 2010

Um caminho costumaz


Algum tempo sem escrever, por motivos diversos. Manter uma rotina é algo que nunca me acostumo, mas tentarei, até mesmo como um exercício crítico.

E por falar em crítica, o que foi as eleições? A democracia está cada vez mais se afastando do pensamento sério dos burocratas e tecnocratas conservadores e indo direto parar nos braços do povão. Parece gozação..., e realmente é!! Agora que a lei seca foi derrubada as zonas eleitorais parecem mais feiras, e é muito bom o reencontro com as pessoas, as conversas e discussões sobre os melhores candidatos. Alguém conhece um Ficha Limpa?? Dizer é muito fácil, mas você bota a mão no fogo por isso?
Observei que as ruas estavam atoladas de folhetos e santinhos dos candidatos, como sempre. O que realmente chamou a minha atenção foi a ausência de papeis do PV. Procurava e não achava um sequer nas ruas. Comentei sobre isso e disseram que é por que o PV não tem dinheiro para imprimir material gráfico. Eu prefiro pensar que é pela causa ambiental e preservação urbana (isso existe?)
Conheço o PV há algum tempo já. Época em que trabalhava como garçom nos aniversários de Juca Ferreira, e simpatizava muito com a ideologia, atitudes do partido. A fauna e flora do PV também era muito interessante – se é que me entendem!
Depois do Boom das eleições o Partido Verde foi colocado em um pedestal sobre a sua atuação dentro do processo eleitoral para presidente. O espólio de 20 milhões de votos começou a ser discutido e nem pediram a minha opinião. Se eles acham que eu vou votar em quem eles indicarem – KA KA KA. O buraco é mais pra cima

E como ninguém é de ferro, uma semana depois tem a Parada Gay na cidade de Lauro de Freitas. Acho que uma boa hora de angariar votos! A comunidade colorida (não inclui necessariamente a classe dos Emos, até por que não sei se eles têm idade de votar, ou se tem interesse nisso). O fato é que a classe gay está elegendo seus próprios representantes – aos poucos, pois segundo comentários a classe não é unida. Estou pra ver qualquer classe unida.

E como ninguém é de ferro, elegeram Tiririca para deputado, só falta esperar que ele cumpra a sua promessa e diga o que REALMENTE um deputado faz! Mas estão tentando tirar o palhaço do caminho alegando que ele é analfabeto. Acho que vamos entrar num ciclo vicioso.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dinosaur Jr. em Salvador - o show


Nessa semana, logo após o show do Dinosaur Jr. virou um clichê dizer que ficou surdo durante a apresentação da banda tamanho era o volume do seu som, mas essa é só a mais pura verdade, eu vi alguma pessoas a partir da segunda música subindo as escadarias da Concha Acústica tentando preservar um pouco de sua audição. É, realmente o paredão de amplificadores de J.Mascis faz a diferença, suas Fender Jazz Máster e seus pedais (Fuzz(pelo menos uns 3), Phaser, Tremolo, entre outros) também! J. Mascis se limitou a tocar e sussurar as músicas, ninguém vai me convencer de que ele canta, mas foi um puta show. No meio, Murph sentava a mão na bateria e do outro lado Lou Barlow era o mais simpático, agradecendo e agitando muito.
No público, uma galera sedenta a pelo menos uns 15 anos assistia uma das maiores lendas do rock alternativo mundial, enquanto outra turma que tinha acabado de conhecer a banda nas últimas semanas e pesquisado no Wikipédia, se mostrava empolgada e tentando cantar as músicas, o que é muito bom. Numa geração que acha que Restart é rock, uma banda como o Dinosaur Jr. pode ser redentora!
Eu conheci seu som com o “Where you been” através de meu amigo Jonas – o Imortal – e de lá pra cá busquei me aprofundar cada vez mais em seu repertório. Foi engraçado ver alguém se questionando se eles tocariam algum cover do Nirvana e de repente, como já era esperado por muitos, eles atacam de Just Like Heaven, do Cure, matador! Rolaram sons de várias fases, uma verdadeira coletânea de hits do underground (Freakscene, Feel the Pain, Forget The Swan,...), uma porrada de guitarras pra gosta de guitar bands! Eita termo mais antiquado!
Bem, eu estou surdo... e você?

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Dinosaur Jr. em Salvador!



Bem, eu estava preparando um comentário a respeito desse álbum aí do lado, mas fui surpreendido com a notícia de que está confirmado o show do Dinosaur Jr. na Concha Acústica de Salvador nos dias 25 ou 26 de setembro! Com isso, o comentário eu vou postar depois! Por enquanto é comemorar escutando seus clássicos em "You're Living All Over Me", "Green Mind" e outros.
O Dino é uma banda americana formada em 1984 por J Mascis, Lou Barlow e Patrick Murphy e sua sonoridade se caracteriza pela urgência do punk rock, porém com uma influência muito grande de Neil Young e Beach Boys, grandes fãs dos Ramones e dos Stooges, a principal marca do seu som é a guitarra de J Mascis carregada de distorções, feddbacks e volume ensurdecedor, solos intermináveis e, geralmente, improvisados, seu jeito desleixado de cantar, mais uma dinâmica "silêncio-barulho-silêncio-barulho e mais barulho de novo" que mais tarde faria a fama do Pixies e Nirvana.
Fiquem com a discografia dessa grande banda!

Discografia:
Dinosaur (1986)
You're Living All Over Me (1987)
Bug (1988)
Green Mind (1991)
Where You Been (1993)
Without A Sound (1994)
Hand It Over (1997)
Live At The BBC (2000)
Beyond (2007)
Farm (2009)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Da série: Crônicas da Vida Cotidiana


Crônica do Pé do Oiti.


Na pitoresca cidade de Lauro de Freitas há uma árvore que é o centro das conversas e reuniões da comunidade. Pode ter certeza que notícias e informações são transmitidas sob a sombra dela. Trata-se de um Pé de Oiti. É de importância tão grande na vida social e política da cidade, que a comunidade tratou logo de homenageá-la, fazendo um feriado Municipal. Uma festa. Uma Grande Festa, onde se distribui licor e tem apresentações de bandas na praça que circunda a Árvore – É a Lavagem do Pé do Oiti- que acontece no último sábado do ano.

Tenho um amigo que é cubano, e que a mãe veio visitar no início de ano de 2010. Aconteceu de em certa ocasião de conversa, num jantar, meu pai comentar sobre essa festa. A senhora cubana não entendia direito.

Meu pai então pediu ao meu amigo, que já morava aqui por seis anos e dominava bem tanto o português quanto o espanhol, que explicasse a ela o que era a Lavagem do Pé do Oiti e sua importância na vida cultural, social e política na cidade.

Meu amigo pacientemente se virou pra mãe e procurava palavras para explicar toda a história, mas ao invés disso ficou por longos 20 segundos em silêncio. Então ele se vira pra mim e num tom confessional me pergunta:
- Como vou explicar a ela que fazem uma festa para uma árvore?


A noite terminou com muitas risadas e discussões em torno das diferenças e semelhanças culturais.

As Memórias e Os Caminhos.


Em Abril de 2010 eu apresentei um espetáculo como diretor e autor. Foi um trabalho a parte do grupo de teatro do qual faço parte. Um trabalho independente. Para isso contei com a ajuda de diversas pessoas trabalhando nas áreas de cenografia, iluminação, acessoria, composição da trilha. Foi um bom projeto com um excelente resultado.


Na criação do programa houve um texto que por motivos de espaço físico no papel acabou não sendo publicado. Trata-se de uma anotação que eu fazia enquanto trabalhava com o ator Venício Coelho durante o processo de montagem.

O nome do espetáculo é Memórias Apagadas e faz partede um projeto que se chama CARTAS


Abaixo segue o texto tal qual tirei do caderno de registro.

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Reflexões do processo de criação do espetáculo Memórias Apagadas.

19 de agosto de 2009

Depois de um tempo maturando e escrevendo sobre as possibilidades do espetáculo, sobre os caminhos que devo seguir, mas principalmente sobre os caminhos que quero tomar, surgiu uma estrada sobre o qual eu ainda não havia pisado. O de contar o que seria não uma história, mas um sentimento. Venho há muito tempo com sentimentos diversos sobre a recente história da humanidade. Não é um sentimento que traduz com pena ou acusações de culpa, colocando o ser humano como algoz na destruição da terra, e consequentemente na destruição de si próprio. O homem traz em si necessidades. Óbvio que a consciência de um uso adequado é relevante para a melhor qualidade de vida de todos. Mas dentro dessa história de preservação e autodestruição há o item das relações entre homem e o próprio homem. São essas relações que quero levar adiante dentro do processo do trabalho.
Dentro desse caminho, o espetáculo surgia como uma carta, escrita e visual, que não há destino específico. É de quem a pegar. E ainda que alguém a pegue, ela continuará seu caminho para que outras pessoas leiam (mesmo as que não sabem ler palavras).
A Linha da carta vai girar em torno da condição humana atual. De chamar a atenção para o comportamento entres os homens, de quando a liberdade é comprometida pelas ações e atos. Não necessariamente seguirá uma ordem lógica.
Mas qual seria o objetivo desse trabalho?
Entregar a carta? Fazer com que a carta seja lida? Fazer com que as pessoas entendam a carta?
Haverá uma história na carta? Uma linha que seguirá uma lógica? Que história seria essa?
Que tipo de espetáculo será esse? Será um espetáculo?
Palavras são só palavras. Mas essas que trago comigo tem caminhos que não mais me pertencem.
As palavras que trago não são carregadas com qualquer sentimento que posso desviar do destino a qual a conduzem. Não são minhas palavras. Não sou eu o destino.
Uma carta tem como alma a mensagem. A entrega. Eu sou isso. Sou a entrega. Eu sou a carta.
O que eu, que sou carta, venho dizer? O que eu, que sou carta, venho entregar?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Madrugada - Industrial Silence (1999)








Um grande começo pra essa banda norueguesa, um disco corajoso que aposta em numa sonoridade alternativa moderna, mas calcada no blues psicodélico de Eric Burdon na transição dos 60/70, pesado na medida certa, esse é Madrugada na sua primeira bolacha, Industrial Silence. Vocal é a primeira música com um stell guitar blueseiro de extremo bom gosto mostrando de onde eles vieram, alternando fúria e doçura, numa grande interpretação com vocalizes e sussurros, grande canção. Em beautyproof surge um rock mais básico e direto, mas com o destaque do stell que vai marcar todo o disco. Shine é uma balada daquelas de dançar juntinho enquanto busca estrelas cadentes, escute a música que você vai entender! Higher vai buscar uma distorção punk para executar a música mais nervosa do álbum, que incrivelmente nos apresenta uma gaita e a voz uiva nos lembrando um pouco os uivos de Iggy Pop, outra influência marcante. Em sirens a introdução progressiva, pinkfloydiana até, antecede uma letra que fala sobre sereias, maldições e solidão. Strange colours blue não poderia ser mais Leonard Cohen em sua interpretação e uma guitarra derramando arpejos e flamenco. This old house começa com violão e gaita numa pegada folk irresistível, vão surgindo bateria e um órgão, até a voz de Sivert Hoyem começar suavemente a contar a história de crianças e suas memórias nessa velha casa, de onde mais uma vez pode se assistir a queda das estrelas, Dylan e Birds por aqui. Outra vez Cohen, blues dramático, a fuga é desesperada, esta se chama eletric. Em salt, um clima de wester invade o sallon, pensei em Nick Cave, são tantas referências nessa música, mais flamenco, tremolo, tom declamatório, surge uma voz discursando por baixo da principal é o apocalipse, gritos e anfetamina! Depois de tantas músicas ótimas, belladonna é um ponto baixo no álbum, não é ruim, mas nada acrescenta. Norwegian hammerworks corps. fala sobre a escravidão do trabalho, e fala mesmo, pois nessa música Hoyem simplesmente declama a letra sobre uma base digna do New Model Army, e canta na redenção ao se encontrar “nas mãos do amor”. Na penúltima música um quase blues pouco inspirado, quite emotional, quatro minutos e meio de música que não nos levam a lugar algum. Terraplane é uma oração sobre uma base jazzística, piano e bateria esparsos, Thelonius Monk ficaria satisfeito. É isso, o álbum começa alto e chega ao fim aos sussurros, alguma irregularidade e grandes canções, muitas e boas influências, o Madrugada, banda norueguesa, lançaria mais cinco álbuns, um deles ao vivo, em 2007 com a morte do guitarrista Robert Burảs a banda chega ao seu fim lançando o seu álbum homônimo em 2008.
A minha cópia desse álbum eu adquiri numa lojinha da Avenida Sete, centrão de Salvador, que hoje virou uma barraquinha de conserto de relógio. Eu buscava um som que eu ainda não conhecesse, o dono da loja me apresentou Pixies, Smashing Punpkins, The Fall, Nick Drake, tentando me surpreender sem sucesso, eu já era apaixonado por tudo isso, sua última carta foi o Madrugada, uma ex-namorada dele tinha trazido da Noruega uns cinco exemplares que ficavam praticamente escondidos lá embaixo do balcão, esse era o penúltimo a ser vendido, o outro era dele, valeu a pena! Assim como vale pedir pra algum amigo que viaje pro exterior procurar ou importar mesmo, vou deixar nos comentários um link que NÂO está hospedado nesse blog, daí você escuta, conhece, deleta e procura comprar o original! Boa sorte!

Strange Colour Blue
http://www.youtube.com/watch?v=BE3qK0iiKc8&feature=related

domingo, 1 de agosto de 2010

Vamos apagar as velhinhas! (Opss...quero dizer; Apagar as velinhas.)

Emancipação de Lauro de Freitas.

São 48 anos de uma parte da história dessa cidade. Nem tão nova assim, vai! A igreja matriz localizada no centro de Lauro de Freitas tem sua data de fundação de 1608 – uma das mais velhas da Bahia.

Nesse sábado então teve festa! Que bom!
O povo então colocou a melhor roupa, colocou aquele conhecido desodorante vencido e foi esquecer os problemas ao som de pagodes, reggae e outros ritmos- (menos rock – aí também é demais também!)

O convidado ilustre e bem pago era Jorge Aragão.
É dia de festa. E como acontece quando tem festa, se esquecem as mazelas. Ninguém padece de qualquer tipo de problema. Não há uma plataforma de reivindicar direitos e melhorias. Não exigem promessas não cumpridas.

As eleições estão chegando e um candidato (Ou candidata – algo assim um pouco confuso) Gritava o quanto era desejada e gostosa. Isso deve ter lhe rendido uns bons votos no consciente eleitorado Laurofreitense. Ela (ou ele!) Gritava de lá, e eu de cá também; “É isso mermo! Jogue duro! Miseravona!”
Isso me deixa tão tranqüilo!! Sei que as pessoas levam isso em conta na hora de votar.

Feliz aniversário Lauro de Freitas. Emancipação Política.
Fui embora pra minha casa.

Experimentalismo psicodélico fotográfico

Foto feita com câmera digital Kodac C180.
Técnica secreta!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Muamba

Antes mesmo de viajar eu já torcia a cara e duvidava se essa viagem seria boa. Uma apresentação em Miami é pra encher os olhos, mas as dificuldades apresentadas foram minando a vontade em conhecer os Estados Unidos da America. A começar pelo visto, que teve que ser tirado em Recife. Entrando num sistema completamente louco, você paga o visto antes da entrevista – ou seja: você paga, mas corre o risco de não levar. E nem sonhe que existe algum tipo de restituição da sua tão suada grana. Não existe nem a quem reclamar. Por essa parte foi tudo bem! Passando por cima do orgulho, fui colocar minhas digitais lá na embaixada Americana. Ao menos sei que tenho uma ficha no FBI- e se tiver muita sorte seu histórico escolar pode cair nas mãos da CIA – por isso, cuidado com as suas notas, e com o que você come.

Todo esse processo, junto com a grana que eu gastei para tirar esse bendito visto, mais as histórias que vemos nos filmes, fez com que tivesse um pé atrás com essa viagem. O objetivo era muito simples: três apresentações no Festival hispânico de teatro realizado pelo grupo Avante de Teatro. Já com uma semana comecei a me preparar psicologicamente para esse trabalho – encarando como um trabalho: vou lá, apresento, ganho minha grana e volto pro meu Brasil, pra minha Bahia.

Não vou me ater à viagem em si. As horas dentro do avião são longas ainda que durem minutos.
O primeiro choque foi a chegada no aeroporto. Parecia a rodoviária de Salvador em época de feriado prolongado. Muita gente. Era um mar de pessoas com tanta diversidade de estilos, que alguns eram bem evidentes.
De onde eu desembarquei até o aeroporto principal pega-se um pequeno metrô. Isso mesmo! Tem um metrô que leva você do avião até a parte principal do aeroporto - e Salvador se matando para construir um que leva nada a lugar nenhum!

Quando conseguimos finalmente sair do aeroporto, mais choque: eram quase 9 horas da noite e ainda era claro como final de tarde no Porto da Barra! Como é isso? Esses Americanos são uns loucos- nem o tempo é certo. Mas eu curti isso. A noite só começa praticamente a partir das 22:00. Mas eu não tinha tanta vontade de passear. Queria logo chegar ao hotel, tomar um banho e dormir. Estava realmente exausto. Vamos passear no outro dia.

Nos Estados Unidos se dizem que tem um evento que começa às 3:28, acredite! Vai começar às 3:28. Os técnicos dos teatros são organizados por sindicatos e trabalham por um turno em que a cada duas horas têm 15 minutos de descanso – a cada 6 horas de trabalho têm direito a uma hora de refeição. Não há quem mude isso. Não há como negociar. Esse jeito de pensar e trabalhar começa a te seduzir por que você tem como se organizar. Sabe de maneira certa quanto tempo precisa para fazer o seu trabalho e montar o seu espetáculo. E tudo fica por conta dos técnicos. Com isso tivemos a tarde livre - era hora de dar uma volta pelas redondezas e reconhecer a área do inimigo.

Não precisa reparar muito e nem ser um expert para notar que não existe carro velho! São carrões que deixa os filhos de Papai de Vilas no Chinelo. Há muito respeito pelos sinais de trânsito. Não peguei um dia sequer de engarrafamento nos dias que passei lá.

E as ruas? Organizadas!
Mas cadê as pessoas? Não há pessoas nas ruas. Não há gente andando pelas calçadas. Claro! Se todos andam de carro. Quase não há ponto de ônibus.
A proporção de pontos de ônibus é a mesma de americanos. Em oito dias que passei lá, devo ter visto apenas uns cinco, no máximo seis americanos. É uma cidade com população formada por estrangeiros. Cubanos, porto riquenhos, hondurenhos, bolivianos, colombianos - pra mim que não sei quase nada de inglês e arranho no espanhol, não tive problema de comunicação.
E além de estrangeiros, boa parte da mão de obra da cidade é feita por idosos. Não é difícil de ver pessoas com mais de sessenta anos trabalhando em caixas de mercados, restaurantes e até dirigindo ônibus (inclusive mulheres! inclusive senhoras!)

No fim das contas a conclusão é que realmente os Estados Unidos é a terra das oportunidades. Consigo entender melhor o tão falado sonho americano que se fala em filmes. Não dá pra concordar com tudo que tem como sistema nos E.U.A. - Mas se for pensar assim, o Brasil está bem longe de ter um sonho brasileiro em que as pessoas possam acreditar.

E por que o Brasil não dá certo?
Um país de tantas riquezas e belezas naturais.
O que faz com que o Brasil não consiga se desenvolver bem? Não consiga oferecer uma qualidade de vida para seus cidadãos?

Não tem como responder. E talvez não exista só uma resposta, mas um complexo ramificado de várias possibilidades para chegar a uma luz no fim do túnel - e cuidado que essa luz pode ser o farol do trem que vem atropelando quem está na frente.

Um doce veneno em doses homéricas!

Era carnaval em Salvador e eu andava pela Praia de Piatã, estava gripado e com febre, acontecia o Palco do Rock, eu usava a minha já surrada camisa do Joy Division, desfilavam diante de mim punks, headbangers e rockers de todo tipo. Foi assustador e ao mesmo tempo engraçado, era uma cara tão alto e desengonçado quanto eu, mas, na época, muito mais forte, aparentemente bêbado e eu bêbado de catarro por dentro do peito e detonado de dor de cabeça, ele vinha em minha direção com uma aparência ameaçadora e logo me acusou de ter roubado uma camisa dele que era exatamente igual a minha. Essa figura saída de um filme de aventura dos anos oitenta atendia pelo nome de Oreah! Anos mais tarde eu me referiria a ele graciosamente como “Orêia, Sua Mísera”.
Levei de forma divertida sua acusação de roubo e fui logo percebendo uma série de pontos de convergências em nossas personalidades, além do gosto pelo Joy Division. Naquela noite fomos beber cerveja num bar improvisado nos fundos do carro de um cara que depois fui descobrir que era apelidado de Bodão, ali estava boa parte de toda turma de Dias D’ávila que viriam a se tornar meus amigos. Entretanto, naquela noite eu saí dalí com a certeza de que nunca mais veria aquele pessoal...
Minha surpresa aconteceu um ano depois quando ia num ônibus fretado tocar em um show na cidade de Conceição de Almeida, e entram Oreah, Fofo, Zé Raimundo e amigos, era a Declinium em uma de suas muitas formações. Que banda! Um baterista básico, mas cheio de personalidade, um guitarrista fantástico e fascinado por efeitos dos mais diversos e o vozeirão do vocalista/baixista entoando cantos de tristeza e solidão. Tudo no seu devido lugar, a melhor formação da Declinium, sem querer desmerecer ninguém, até por que eu também toquei na banda, mas essa é a formação mais clássica, tudo mais é só um complemento, inclusive as chuvas torrenciais (tempestades!) que acompanharam vários shows da banda que eu pude assistir e participar.
Minha passagem pela Declinium foi uma grande aventura! Eu nunca tinha tocado numa banda que propunha tanta liberdade de experimentação e noise, no primeiro ensaio e único antes do meu primeiro show acompanhando meus amigos/heróis quis saber: “- E aí? Vocês querem que eu siga exatamente o que está gravado no Ep?” A resposta de Fofo: “- Faça o que você quiser! Eu confio no som da sua guitarra!” Carta branca dada, eu fiz alguns dos shows mais loucos da minha vida empunhando minha guitarra, de alguns deles eu só lembro o teto e certo show em que aconteceu uma briga e apareceu uma mulher que parecia saída de Matrix. Hoje em dia não vale nem mais a pena pensar sobre o porquê eu saí da banda, foi na hora certa! A banda mudou e hoje depois de mais algumas mudanças depois dessa, é outra coisa, mas ainda coisa muito boa! Tenho orgulho da minha passagem... voltei, e saí de novo!
Você já ouviu falar de Ciclopédico? É um colírio...
Já a Declinium é uma banda de rock que tem entre suas principais influências Jesus and Mary Chains, Stone Roses e Joy Division, os desavisados vão falar sobre Legião Urbana, eu aponto, Zero e Hojerizah, Ned’s Atomic Dustbin, Mission, Happy Mondays e muito da personalidade desses caras, moradores da Machester baiana. Camaçari e Dias D’avilla, no meu entender, são cidades que se complementam!
Oreah e Zé Raimundo tocam na Declinium ainda, agora com Franco (que foi e voltou a ser guitarrista!) e Hallison (também guitarra!), antes dessa turma ainda passaram Jair, Bogus, Roque, Danilo, Dimmy, eu e antes de mim, Franco (o mesmo que voltou!),Fred e mais alguns que eu não conheci e quem sabe, a memória de algum dos dois remanescentes possa se lembrar. Viva Néa e seu bar, Marcola, Bodão, Jonas (o imortal!) e tanta gente legal, que fez e faz parte de minha vida! Um abraço a todos! Valeu “Orêia, Sua Misêra” sua idéia alucinada de que eu tinha roubado sua camisa do Joy Division me levou a tudo isso: nesse filme tem drama, romance, brigas, festas, sexo, alucinógenos, rock, sadness, happiness e confusion.
Hehe! Só coisa boa!

J & L

Ela estava surpresa com a tranqüilidade de J., ele sempre foi muito afoito, e naquela noite em que eles estavam em seu apartamento, sozinhos, L. preparou um clima gostoso, tinha incenso, estavam na sala, escutavam um disco velho de B.B. King, tomando vinho, jogando cartas e fumando já há algumas horas, conversavam e riam enquanto jogavam, o máximo que ela percebia era ele admirando suas pernas pelo tampo da mesa de vidro, L. usava um vestidinho roxo e uma calcinha de florzinha minúscula, louca pra que J. encerrasse aquela partida com um gesto pateticamente bruto e avançasse acintosamente sobre a mesa pra alcançá-la. Ela achava charmoso o jeito com que ele tentava tomar conta das situações sem conseguir, e sempre se embaraçando nas palavras e na própria graça daquilo tudo, mas essa noite não, ele não tinha dado ainda nenhuma investida, ela sempre o rechaçava, já se conheciam há anos, eles se encontravam sem periodicidade, quando dava vontade, sem compromissos, se pegavam em ponto de ônibus, banco de praça, onde dava pra se escorar, mas L. sempre impunha seus limites que deixavam J. ainda mais descontrolado.
O certo é que, no alto de todo seu autocontrole, ao final de uma das partidas, enquanto L. embaralhava, J. se levantou, foi até a estante onde estavam os discos de vinil do pai dela, muito samba de raiz, MPB, bolero, saiu daquele empoeirado com Ângela Rô-ro e Luís Melodia, já tinha ouvido falar dos escândalos dela, e o título de maldito do outro lhe interessava, não tinha cd-player no apartamento, ele tinha levado Led Zeppelin e Janis Joplin, andava meio fascinado pela força do som do Zeppelin e a fossa blueseira de Joplin. Pôs os vinis sobre a vitrola que pertencia ao pai da garota e quis saber qual deveria escutar primeiro, falou de suas preferências querendo alguma referência, e meio desconfiado colocou o primeiro álbum homônimo de Ângela Rô-ro, um clássico da música brasileira, a voz dela grave e rouca curtida em uísque e nicotina, ele identificou logo a vivacidade da cantora e aguardou os seus grandes momentos, na capa do álbum ela aparecia jovem e em suas letras a força de quem já tinha vivido intensamente todas as experiências, J. ficou com tesão, imaginou: - Ela está esperando que eu avance só pra me dizer não! – no sulco do vinil, Ângela cantava: - Que preconceito barato, que o cão caça o gato! Me morde, me desafia, só meu olhar lhe arrepia! – entra um solo de guitarra. Blues! Depois de algumas outras músicas, uma conhecida, que o Barão Vermelho fez cover, Amor, Meu Grande Amor, passou longe da maravilhosa melancolia da original, muito mais forte, J. descobriu que gostava daquele som!
J. e L. eram muito diferentes, ele era um rocker alucinado, enquanto que ela era uma aficionada pela coleção de vinis do pai, ele escondia o rosto atrás dos cabelos encaracolados compridos, ela usava um corte bem curto, era uma negra carnuda, realmente acima do peso, daquelas que não aparecem nas revistas que cultuam a anorexia, mas que sabem ser apreciadas por homens que gostam realmente de mulher, ele era de uma mestiçagem interessante, tinha até um pouco de, quem sabe, árabe naquela mistura, era alto, espaçoso, ela de vez em quando usava óculos, precisava, mas insistia em não usar, ele cutucava as espinhas que teimavam em aparecer mesmo já tento passado da fase, um quase-casal improvável mas que tinham muita vontade de conhecer os muitos mundos que existiam dentro de cada um, o que tinham pra revelar e esconder.
Planejaram mais duas partidas, já era quase meia-noite, não sabiam como ia terminar aquele jogo. No meio de um morto surpreendentemente dado por L., J. trocou o disco, pensando se ela queria terminar logo aquela brincadeira, Melodia invadia o ambiente meio a capela, acompanhado apenas por uma flauta, era um samba-canção, flauta, e J. lembrou Jethro Thull, buscava suas referências, mas o clima do disco era muito diferente de qualquer coisa que estava acostumado a ouvir, o álbum era recheado de um samba, meio jazzista, minimalista no instrumental, enfatizando a voz e a letra. Do nada uma guitarra distorcida, era uma música chamada Pra Aquietar, um rock com aquela cara de anos setenta, falava sobre o cotidiano, imagens oníricas e machismo, curtiu, era interessante e inesperado. Tudo sob controle. Ainda.
A partida e tudo mais ficaram desinteressantes quando L. se acomodou na cadeira com uma das pernas arqueada e a outra com o pé no acento, seu queixo caiu no joelho, ela colocou a mão no meio e deu um sorrisinho olhando pro chão. J. não conseguia mais disfarçar seu desejo, olhava pras cartas e pra ponta da calcinha de florzinhas que aparecia, mal tinham se tocado desde a hora em que chegou, ela estava cheirosa, J. simplesmente chamou ela pro quarto. Se eles transaram? Algumas vezes naquela madrugada. Amanhecia, eles estavam nus, novamente na sala, assistiam um VHS, Eu Te Amo, cinema nacional, Sonia Braga, Vera Fisher, Pereio, existencialismo, sexo, uns diálogos meio sem nexo, J. pensou n’O Último Tango em Paris, tinha sexo, um apartamento, existencialismo, mas existia uma força muito maior, em tudo mais, pensou neles mesmos, na cena da manteiga, L. já dormia e ele ainda olhava o teto.
Não se tornaram um casal, ficavam longos períodos sem se ver, estando com outras pessoas, e períodos em que estavam apenas os dois, longe do mundo, trancados no apartamento, no meio do mato, fizeram umas viagens juntos até, e às vezes ficavam no ponto de ônibus, sabiam das outras histórias, falavam de amor e de amar, e mais do que tudo, se amavam, daquele jeito só deles que não se preocupavam em entender ou explicar, trocaram muitas experiências, cinema, livros e música, cigarros, vinhos, luares e lugares.
Existem portos que te libertam. No único lugar onde pode se exercer a mais pura sinceridade, sem medo, a mentira é só uma brincadeira pra não se esquecer do oco do mundo, sedução e a coragem de pular para além dos limites é verdade reluzente.
J. aprendeu a gostar de Zizi Possi e L. é uma grande fã de ZZ Top.

sábado, 10 de julho de 2010

Uma carta ao acaso.

É uma bela noite! Não está o céu limpo, mas possui nuvens como se fossem carregadas de uma densa fumaça que em contato com a lua transforma a escuridão num espetáculo de aparência avermelhada. Seguindo uma estrada de barro chega-se a um sítio de muros brancos e portão amarelo. Não é um sítio que tenha características de lugar rico, mas é bem arrumado e as plantas e animais que ali vivem parecem gostar de como são tratados. Na casa que fica nesse sítio entra-se por uma porta de ferro, também amarela igual ao portão de madeira, e segue por um pequeno corredor até chegar à copa. Na copa da casa de portas amarelas tem outra porta, também amarela, que dá numa pequena sala, uma ante-sala pra falar a verdade, onde tem um armário com alguns livros, uma mesinha com um computador em cima, e em frente ao computador digitando de forma concentrada e determinante está eu.
Olá Luis!
Acabei de escrever a crítica. Foi de uma só vez, igual a comprimido de dor de cabeça. Era uma dor de cabeça que estava querendo sair desde quinta quando vi Branca. Estou te mandando o texto em anexo. Leia e diga o que acha. Tentei escrever de forma mais isenta possível de qualquer envolvimento que tenha com você ou qualquer outra pessoa do grupo, mesmo que isso não seja tão possível assim. Tenho uma grande admiração pelo Oco teatro, e isso se reflete no que eu penso. Mas foi uma satisfação refletir sobre o que eu vi na quinta naquele MARAVILHOSO coquetel que foi oferecido. Não tratei na critica sobre as pessoas mal educadas como, por exemplo, aquela vaca que sentou do meu lado e tossia a toda hora. Ou como o celular que tocou no meio da apresentação, ou ainda de um rapaz que se levantou da arquibancada e ficou passeando por entre as pessoas sentadas... enfim, leia e você vai ver que ficou legal (ops!! Legal não. Interessante!) Estou cansado e com sono agora. Te mandaria na hora em que escrevo essa cartinha, mas a internet no sítio de portas amarelas ainda não é possível por uma questão logística. Talves se eu morasse numa linda e arborizada alameda...quem sabe. Espero o dia amanhecer e tratar de te mandar logo isso.
Nos falamos... Lembranças a Rafa. Depois falo com ele melhor. Fiquei muito impressionado com a caracterização do personagem dele. A voz do padre que ele fez me assombra todas as noites, e por causa disso tenho rezado antes de dormir.

Abraços,

Tiago c.

Quando eu descobri que queria ser um Ramone.

A primeira vez que escutei o Brain Drain foi o momento da descoberta. Eu já ouvia as pessoas falando do som punk como uma tosqueira absurda, algo sem nexo e mal feito, e naqueles tempos pré-internet, morando numa cidade da região metropolitana de Salvador, o jeito mais fácil de conhecer algo que estivesse fora da mídia era tendo algum amigo que te apresentasse essa banda ou álbum. Meu irmão mais velho, na época, dizia que os Ramones eram os “traidores do movimento”, ou seja, era preciso que outra pessoa me apresentasse o som punk, por que eu entendi, sem saber o motivo, que eu iria conhecer-lo através dos Ramones - justamente os malditos! Disseram que eles eram horríveis, o cantor não sabia cantar, o baterista só usava a mesma batida e guitarra e baixo só usavam as mesmas três notas em todas as músicas, e justamente eu, um apaixonado por perdedores, não tinha como não ficar alucinado para conhecer esses maravilhosos mongolóides. A oportunidade surgiu exatamente no dia seguinte em que pude assistir, assustado, pela primeira vez uma banda punk tocando ao vivo no então Cine-Teatro de Lauro de Freitas. Nesse show eu reencontrei um amigo de infância que me convidou pra ir a sua casa no dia seguinte e, que sorte, lá estava o Brain Drain em vinil, que era da irmã dele que nem curtia som e que ele achava ultrapassado. Naquele dia não quis escutar mais nada, o álbum era perfeito. Eu, que já arranhava algumas notas, pude perceber logo de cara que era uma grande bobagem dizer que eles usavam sempre as mesmas três notas em todas as músicas. I Believe In Miracles, primeira faixa do disco, já tinha lá umas cinco notas e suas variações, existia um senso melódico que não achei que pudesse existir numa banda punk, tamanho o susto da noite anterior. Depois fui entender que estas eram algumas das diversas linguagens musicais dentro da sonoridade punk que o Ramones ajudou a criar e desenvolver. O vocal do Ramones era grave e profundo, bem diferente do que me disseram que seria e, olha que surpreendente, o baterista sabia outras batidas e pulsações! Descobri o som e a banda que me acompanharia até os dias atuais através de um disco, que nem é considerado um dos seus clássicos. E o melhor: era algo que eu conseguia tocar! Pet Sematary, eu nem sabia que já era hit, mas foi logo de cara a minha favorita, realmente era um hit inesquecível e tantas outras; Punishment Fits The Crime, Ignorance Is Bliss, Learn To Listen, todas, a partir daí eu estava salvo! Obrigado Joey, obrigado Ramones!