sexta-feira, 23 de julho de 2010

Muamba

Antes mesmo de viajar eu já torcia a cara e duvidava se essa viagem seria boa. Uma apresentação em Miami é pra encher os olhos, mas as dificuldades apresentadas foram minando a vontade em conhecer os Estados Unidos da America. A começar pelo visto, que teve que ser tirado em Recife. Entrando num sistema completamente louco, você paga o visto antes da entrevista – ou seja: você paga, mas corre o risco de não levar. E nem sonhe que existe algum tipo de restituição da sua tão suada grana. Não existe nem a quem reclamar. Por essa parte foi tudo bem! Passando por cima do orgulho, fui colocar minhas digitais lá na embaixada Americana. Ao menos sei que tenho uma ficha no FBI- e se tiver muita sorte seu histórico escolar pode cair nas mãos da CIA – por isso, cuidado com as suas notas, e com o que você come.

Todo esse processo, junto com a grana que eu gastei para tirar esse bendito visto, mais as histórias que vemos nos filmes, fez com que tivesse um pé atrás com essa viagem. O objetivo era muito simples: três apresentações no Festival hispânico de teatro realizado pelo grupo Avante de Teatro. Já com uma semana comecei a me preparar psicologicamente para esse trabalho – encarando como um trabalho: vou lá, apresento, ganho minha grana e volto pro meu Brasil, pra minha Bahia.

Não vou me ater à viagem em si. As horas dentro do avião são longas ainda que durem minutos.
O primeiro choque foi a chegada no aeroporto. Parecia a rodoviária de Salvador em época de feriado prolongado. Muita gente. Era um mar de pessoas com tanta diversidade de estilos, que alguns eram bem evidentes.
De onde eu desembarquei até o aeroporto principal pega-se um pequeno metrô. Isso mesmo! Tem um metrô que leva você do avião até a parte principal do aeroporto - e Salvador se matando para construir um que leva nada a lugar nenhum!

Quando conseguimos finalmente sair do aeroporto, mais choque: eram quase 9 horas da noite e ainda era claro como final de tarde no Porto da Barra! Como é isso? Esses Americanos são uns loucos- nem o tempo é certo. Mas eu curti isso. A noite só começa praticamente a partir das 22:00. Mas eu não tinha tanta vontade de passear. Queria logo chegar ao hotel, tomar um banho e dormir. Estava realmente exausto. Vamos passear no outro dia.

Nos Estados Unidos se dizem que tem um evento que começa às 3:28, acredite! Vai começar às 3:28. Os técnicos dos teatros são organizados por sindicatos e trabalham por um turno em que a cada duas horas têm 15 minutos de descanso – a cada 6 horas de trabalho têm direito a uma hora de refeição. Não há quem mude isso. Não há como negociar. Esse jeito de pensar e trabalhar começa a te seduzir por que você tem como se organizar. Sabe de maneira certa quanto tempo precisa para fazer o seu trabalho e montar o seu espetáculo. E tudo fica por conta dos técnicos. Com isso tivemos a tarde livre - era hora de dar uma volta pelas redondezas e reconhecer a área do inimigo.

Não precisa reparar muito e nem ser um expert para notar que não existe carro velho! São carrões que deixa os filhos de Papai de Vilas no Chinelo. Há muito respeito pelos sinais de trânsito. Não peguei um dia sequer de engarrafamento nos dias que passei lá.

E as ruas? Organizadas!
Mas cadê as pessoas? Não há pessoas nas ruas. Não há gente andando pelas calçadas. Claro! Se todos andam de carro. Quase não há ponto de ônibus.
A proporção de pontos de ônibus é a mesma de americanos. Em oito dias que passei lá, devo ter visto apenas uns cinco, no máximo seis americanos. É uma cidade com população formada por estrangeiros. Cubanos, porto riquenhos, hondurenhos, bolivianos, colombianos - pra mim que não sei quase nada de inglês e arranho no espanhol, não tive problema de comunicação.
E além de estrangeiros, boa parte da mão de obra da cidade é feita por idosos. Não é difícil de ver pessoas com mais de sessenta anos trabalhando em caixas de mercados, restaurantes e até dirigindo ônibus (inclusive mulheres! inclusive senhoras!)

No fim das contas a conclusão é que realmente os Estados Unidos é a terra das oportunidades. Consigo entender melhor o tão falado sonho americano que se fala em filmes. Não dá pra concordar com tudo que tem como sistema nos E.U.A. - Mas se for pensar assim, o Brasil está bem longe de ter um sonho brasileiro em que as pessoas possam acreditar.

E por que o Brasil não dá certo?
Um país de tantas riquezas e belezas naturais.
O que faz com que o Brasil não consiga se desenvolver bem? Não consiga oferecer uma qualidade de vida para seus cidadãos?

Não tem como responder. E talvez não exista só uma resposta, mas um complexo ramificado de várias possibilidades para chegar a uma luz no fim do túnel - e cuidado que essa luz pode ser o farol do trem que vem atropelando quem está na frente.

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