sábado, 10 de julho de 2010

Quando eu descobri que queria ser um Ramone.

A primeira vez que escutei o Brain Drain foi o momento da descoberta. Eu já ouvia as pessoas falando do som punk como uma tosqueira absurda, algo sem nexo e mal feito, e naqueles tempos pré-internet, morando numa cidade da região metropolitana de Salvador, o jeito mais fácil de conhecer algo que estivesse fora da mídia era tendo algum amigo que te apresentasse essa banda ou álbum. Meu irmão mais velho, na época, dizia que os Ramones eram os “traidores do movimento”, ou seja, era preciso que outra pessoa me apresentasse o som punk, por que eu entendi, sem saber o motivo, que eu iria conhecer-lo através dos Ramones - justamente os malditos! Disseram que eles eram horríveis, o cantor não sabia cantar, o baterista só usava a mesma batida e guitarra e baixo só usavam as mesmas três notas em todas as músicas, e justamente eu, um apaixonado por perdedores, não tinha como não ficar alucinado para conhecer esses maravilhosos mongolóides. A oportunidade surgiu exatamente no dia seguinte em que pude assistir, assustado, pela primeira vez uma banda punk tocando ao vivo no então Cine-Teatro de Lauro de Freitas. Nesse show eu reencontrei um amigo de infância que me convidou pra ir a sua casa no dia seguinte e, que sorte, lá estava o Brain Drain em vinil, que era da irmã dele que nem curtia som e que ele achava ultrapassado. Naquele dia não quis escutar mais nada, o álbum era perfeito. Eu, que já arranhava algumas notas, pude perceber logo de cara que era uma grande bobagem dizer que eles usavam sempre as mesmas três notas em todas as músicas. I Believe In Miracles, primeira faixa do disco, já tinha lá umas cinco notas e suas variações, existia um senso melódico que não achei que pudesse existir numa banda punk, tamanho o susto da noite anterior. Depois fui entender que estas eram algumas das diversas linguagens musicais dentro da sonoridade punk que o Ramones ajudou a criar e desenvolver. O vocal do Ramones era grave e profundo, bem diferente do que me disseram que seria e, olha que surpreendente, o baterista sabia outras batidas e pulsações! Descobri o som e a banda que me acompanharia até os dias atuais através de um disco, que nem é considerado um dos seus clássicos. E o melhor: era algo que eu conseguia tocar! Pet Sematary, eu nem sabia que já era hit, mas foi logo de cara a minha favorita, realmente era um hit inesquecível e tantas outras; Punishment Fits The Crime, Ignorance Is Bliss, Learn To Listen, todas, a partir daí eu estava salvo! Obrigado Joey, obrigado Ramones!

3 comentários:

  1. É fácil criticar, mas, se uma banda é capaz de cativar tanta gente com "apenas 3 acordes e uma batida sempre igual (do ponto de vista dos "analistas", digamos assim)" é porque a coisa merece atenção, não é mesmo?

    Eu, nem preciso falar... Ramones 4 ever!

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