sexta-feira, 23 de julho de 2010

Um doce veneno em doses homéricas!

Era carnaval em Salvador e eu andava pela Praia de Piatã, estava gripado e com febre, acontecia o Palco do Rock, eu usava a minha já surrada camisa do Joy Division, desfilavam diante de mim punks, headbangers e rockers de todo tipo. Foi assustador e ao mesmo tempo engraçado, era uma cara tão alto e desengonçado quanto eu, mas, na época, muito mais forte, aparentemente bêbado e eu bêbado de catarro por dentro do peito e detonado de dor de cabeça, ele vinha em minha direção com uma aparência ameaçadora e logo me acusou de ter roubado uma camisa dele que era exatamente igual a minha. Essa figura saída de um filme de aventura dos anos oitenta atendia pelo nome de Oreah! Anos mais tarde eu me referiria a ele graciosamente como “Orêia, Sua Mísera”.
Levei de forma divertida sua acusação de roubo e fui logo percebendo uma série de pontos de convergências em nossas personalidades, além do gosto pelo Joy Division. Naquela noite fomos beber cerveja num bar improvisado nos fundos do carro de um cara que depois fui descobrir que era apelidado de Bodão, ali estava boa parte de toda turma de Dias D’ávila que viriam a se tornar meus amigos. Entretanto, naquela noite eu saí dalí com a certeza de que nunca mais veria aquele pessoal...
Minha surpresa aconteceu um ano depois quando ia num ônibus fretado tocar em um show na cidade de Conceição de Almeida, e entram Oreah, Fofo, Zé Raimundo e amigos, era a Declinium em uma de suas muitas formações. Que banda! Um baterista básico, mas cheio de personalidade, um guitarrista fantástico e fascinado por efeitos dos mais diversos e o vozeirão do vocalista/baixista entoando cantos de tristeza e solidão. Tudo no seu devido lugar, a melhor formação da Declinium, sem querer desmerecer ninguém, até por que eu também toquei na banda, mas essa é a formação mais clássica, tudo mais é só um complemento, inclusive as chuvas torrenciais (tempestades!) que acompanharam vários shows da banda que eu pude assistir e participar.
Minha passagem pela Declinium foi uma grande aventura! Eu nunca tinha tocado numa banda que propunha tanta liberdade de experimentação e noise, no primeiro ensaio e único antes do meu primeiro show acompanhando meus amigos/heróis quis saber: “- E aí? Vocês querem que eu siga exatamente o que está gravado no Ep?” A resposta de Fofo: “- Faça o que você quiser! Eu confio no som da sua guitarra!” Carta branca dada, eu fiz alguns dos shows mais loucos da minha vida empunhando minha guitarra, de alguns deles eu só lembro o teto e certo show em que aconteceu uma briga e apareceu uma mulher que parecia saída de Matrix. Hoje em dia não vale nem mais a pena pensar sobre o porquê eu saí da banda, foi na hora certa! A banda mudou e hoje depois de mais algumas mudanças depois dessa, é outra coisa, mas ainda coisa muito boa! Tenho orgulho da minha passagem... voltei, e saí de novo!
Você já ouviu falar de Ciclopédico? É um colírio...
Já a Declinium é uma banda de rock que tem entre suas principais influências Jesus and Mary Chains, Stone Roses e Joy Division, os desavisados vão falar sobre Legião Urbana, eu aponto, Zero e Hojerizah, Ned’s Atomic Dustbin, Mission, Happy Mondays e muito da personalidade desses caras, moradores da Machester baiana. Camaçari e Dias D’avilla, no meu entender, são cidades que se complementam!
Oreah e Zé Raimundo tocam na Declinium ainda, agora com Franco (que foi e voltou a ser guitarrista!) e Hallison (também guitarra!), antes dessa turma ainda passaram Jair, Bogus, Roque, Danilo, Dimmy, eu e antes de mim, Franco (o mesmo que voltou!),Fred e mais alguns que eu não conheci e quem sabe, a memória de algum dos dois remanescentes possa se lembrar. Viva Néa e seu bar, Marcola, Bodão, Jonas (o imortal!) e tanta gente legal, que fez e faz parte de minha vida! Um abraço a todos! Valeu “Orêia, Sua Misêra” sua idéia alucinada de que eu tinha roubado sua camisa do Joy Division me levou a tudo isso: nesse filme tem drama, romance, brigas, festas, sexo, alucinógenos, rock, sadness, happiness e confusion.
Hehe! Só coisa boa!

3 comentários:

  1. hahaha Depois de ouvir muito essa história, é bem legal ter a oportunidade de ler e imaginar essas situações por um novo ângulo. Um salve à camisa do Joy que proporcionou tantas situações legais.
    abraços!

    ResponderExcluir
  2. Porra que sirva de lição, se vc quer viver algo tão louco e impolgante, compre uma camisa do Joy. Cara sua descrição dos fatos me deixou com saudades, porra como foi tudo tão legal, ainda bem quem pude ver tudo isso, PORRA VIVA o rock.

    ResponderExcluir
  3. poxa! véio é muito gratificante ler e poder rever esses momentos na mente. acredito que muita coisa aconteceu e fatos importantes tao ai pra mostrar! dias dávila sempre foi e será uma terra de surpresas alegrias e confusoes!! boa agua e amizades eternas !! muita coisa vce nao alcançou mas, chegou a tempo de conhecer e viver tudo isso que vce narrou . no mais, agradeço por esse sentimento que tem por nossa cidade e turma e nosso som ! um grande abraço véio e muita luz !!!! z´raimundo

    ResponderExcluir